Escambo resiste e convive com as estratégias digitais

Por Silvana Bazani em 22/01/2024 às 11:19:14

Diferentes formas de negociação de mercadorias são conciliadas em plena na era digital. Estratégias pré-históricas de transação de produtos ainda sobrevivem e convivem amigavelmente com pagamentos conectados. A milenar prática do escambo, que consiste na troca de bens e serviços sem utilizar dinheiro, ainda é adotada por empreendedores e comerciantes em Mato Grosso, bem como em outros lugares do Brasil e do mundo. Quem busca negociar e ampliar as vendas, porém, não fica à margem das facilidades tecnológicas e também investe em marketing digital.

É o caso da artesã e integrante do Movimento Mulheres do Território Indígena do Xingu (MMTIX), Watatakalu Yawalapiti. O coletivo MMTIX busca articular e unir as mulheres indígenas para a emancipação e participação delas nas decisões políticas, tanto dentro como fora de suas aldeias. Além de compor o MMTIX, Watatakalu também coordenou o departamento das mulheres da Associação Terra Indígena do Xingu (ATIX - Mulher). Líder dos Yawalapiti, uma das 16 tribos do Xingu que habitam a região nordeste de Mato Grosso, a artesã aprendeu com as mulheres da família a produzir e comercializar arte indígena.

"Já tive loja e utilizei diferentes formas para vender as peças de arte que produzo. Como sou do movimento indígena, viajo muito. Então, carrego minhas peças de arte na mala. Não faço muita divulgação na internet, porque arte indígena não tem produção em escala, mas eu uso minhas redes sociais para divulgar", explica Watatakalu.

O resultado das vendas da produção artesanal tem sido positivo, ao ponto de possibilitar cobrir as despesas cotidianas. Também trabalho com peças de outras mulheres indígenas. Às vezes, trocamos entre nós. Se elas gostam das minhas peças e não têm como pagar em dinheiro, a gente troca, detalha. Além da prática do escambo, mantida no Brasil há séculos pelos povos originários, Watatakalu também encomenda ou compra peças de outras artesãs indígenas para revender.

Esse modelo de negócios que envolve a permuta de bens ou serviços ultrapassa os limites das aldeias indígenas e alcança estabelecimentos em grandes centros comerciais. Na capital Cuiabá, as irmãs e sócias Sara Silva e Izabel Sale mantêm um brechó há 9 anos e costumam renovar o estoque por meio do escambo. A gente realiza troca somente com as clientes.

"Quando elas vêm com o desapego, a gente avalia, dá o valor das peças e elas têm a opção de receber em dinheiro ou retirar o valor correspondente em mercadoria", detalha Sara. A escolha pela permuta ocorre em 50% das negociações realizadas no brechó Catarina Sisters.

Fonte: Gazeta Digital

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