Escolas de ensino médio da Maré só atendem 31,6% dos jovens da região

Por Onde A Fatos em 31/08/2024 às 14:39:58

O Complexo da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro, tem apenas quatro escolas de ensino médio. Juntas elas tĂȘm 2.267 alunos matriculados. O nĂșmero corresponde a 31,6% do total de 7.162 jovens de 15 a 18 anos que vivem na região. Os dados foram divulgados durante a 5ÂȘ edição do SeminĂĄrio de Educação da Maré, realizada nos dias 27 e 28 de agosto, e fazem parte do relatório divulgado pela Redes da Maré.

No conjunto de 15 favelas da Maré, hĂĄ atualmente 49 escolas pĂșblicas, sendo 45 municipais e quatro estaduais, num total de 19.537 estudantes. "Também cabe ponderar que esse nĂșmero relativamente alto de escolas na Maré é recente e ainda insuficiente para atender as mais de 41 mil crianças e adolescentes de zero a 17 anos que moram no bairro", diz o documento.

Segundo o relatório, o trabalho da equipe do Toda Menina na Escola, nas 15 favelas do complexo, mostra que são mĂșltiplas as causas que levam crianças e adolescentes a se afastarem das escolas ou jamais terem sido matriculados. Trata-se de uma camada da população vulnerabilizada, na qual, na maioria dos casos, as mães são as chefes e as Ășnicas responsĂĄveis em seus lares.

"A educação pĂșblica nas favelas do Rio de Janeiro é uma questão complexa e desafiadora, extremamente importante para se compreender o cenĂĄrio educacional da cidade e do paĂ­s como um todo. A desigualdade socioespacial é uma caracterĂ­stica comum em muitas grandes cidades, com disparidades sociais entre diferentes ĂĄreas e bairros. Fatores que levam à desigualdade socioespacial são distribuição desigual de recursos, segregação residencial, disparidades de renda e emprego, acessibilidade e transporte, além da violĂȘncia", diz o documento.

De acordo com o Censo Populacional da Maré, em 2013, 53,47% de seus habitantes não tinham completado o Ensino Fundamental. JĂĄ a taxa de analfabetos entre pessoas a partir de 15 anos correspondia a 6% da população, sendo mais da metade mulheres.

Segundo o relatório, as escolas da Maré frequentemente enfrentam problemas relacionados à infraestrutura precĂĄria, falta de recursos, déficit de professores, turmas superlotadas e carĂȘncia de materiais didĂĄticos adequados. Esses fatores acabaram afetando diretamente a qualidade do ensino oferecido.

"Os altos Ă­ndices de violĂȘncia afetam diretamente o quadro de insegurança nas escolas e o percurso dos alunos às unidades escolares. A existĂȘncia de confrontos armados em horĂĄrio escolar prejudica diretamente o acesso à educação e o bem-estar dos estudantes e professores. Além do receio de mobilidade de famĂ­lias e estudantes, especialmente adolescentes do sexo masculino, as escolas da Maré são fechadas regularmente por conta de operações policiais no território. Em 2022, 62% das operações policiais na Maré foram realizadas próximo a escolas e creches e, somente em 2023, foram 25 dias de aulas suspensas em decorrĂȘncia de operações policiais", diz o relatório.

Operações policiais

O Ministério da Educação (MEC) sugeriu a criação de um grupo de trabalho ou uma comissão para discutir os impactos de operações policiais no funcionamento do sistema educacional, bem como formas de reparação em casos onde ocorrem o fechamento de escolas e a suspensão de aulas.

A proposta surge em resposta aos questionamentos encaminhados pelo Ministério PĂșblico Federal (MPF), por meio da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão. HĂĄ duas semanas, a instituição solicitou ao MEC informações sobre a existĂȘncia de uma diretriz nacional sobre o impacto das operações policiais no sistema educacional e uma forma de reparação, para que os alunos não carreguem esse déficit durante toda a trajetória escolar.

No Rio de Janeiro, onde a situação é corriqueira, levantamentos registram nĂșmeros alarmantes. No Complexo da Maré, um boletim produzido pela organização Redes da Maré indica que, entre 2016 e 2023, foram 146 dias com aulas suspensas e escolas fechadas em decorrĂȘncia de operações policiais.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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