Faculdades e EaD podem aumentar o acesso ao ensino público superior

Por Onde A Fatos em 07/11/2024 às 18:06:47

Faculdades pĂșblicas, cursos noturnos e expansão do ensino a distância (EaD) em cursos superiores são algumas das propostas do grupo de trabalho da Academia Brasileira de CiĂȘncias (ABC) para aperfeiçoar o ensino superior pĂșblico e democratizar o acesso à educação de qualidade. As propostas estão no relatório Um olhar sobre o ensino superior no Brasil, divulgado nesta quinta-feira (7), pela ABC.

Entre as principais propostas estĂĄ a criação de faculdades federais, que são instituições voltadas exclusivamente para o ensino, mirando na formação de profissionais qualificados a um custo menor por aluno, de forma a expandir o acesso de estudantes ao ensino superior pĂșblico.

Atualmente, as universidades federais dedicam-se também à pesquisa e à extensão, que é a interação com a sociedade, em projetos voltados para melhorias sociais. A proposta seriam instituições pĂșblicas focadas exclusivamente em formar estudantes no ensino superior. A ideia é facilitar a abertura de vagas que se adaptem às demandas atuais dos estudantes, como maior flexibilidade e acesso ao ensino noturno, por exemplo.

No Brasil, de acordo com o relatório, apenas 22% da população entre 25 e 34 anos tĂȘm diploma universitĂĄrio. Esse percentual estĂĄ abaixo da média dos paĂ­ses da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é 47%. Além disso, 79% das matrĂ­culas estão concentradas no setor privado.

"Isso é um nĂșmero muito pequeno, se a gente pensa em um paĂ­s que precisa se desenvolver com rapidez", diz o professor do Instituto de FĂ­sica da UFRJ Rodrigo Capaz, membro titular da ABC, que fez parte do grupo de trabalho (GT).

Sobre as faculdades federais, ele explica: "Quando a gente olha experiĂȘncias ao redor do mundo, a gente ver que em nenhum paĂ­s do mundo a massificação ou a democratização do ensino superior ocorreu através das universidades de pesquisa. Porque apesar de elas serem enfim altamente qualificadas para realizar pesquisa, elas acabam tendo um gasto por aluno que é maior do que outro tipo de instituição que seria dedicada apenas ao ensino".

Além das faculdades federais, o documento também propõe a criação de Centros de Formação em Áreas Estratégicas (CFAEs) nas universidades pĂșblicas. Eles seriam voltados para seis campos: bioeconomia; agricultura e agronegócio; transição energética; saĂșde e bem-estar; transformação digital e inteligĂȘncia artificial; e materiais avançados e tecnologias quânticas. Esses centros atuariam de forma interdisciplinar, promovendo a criação de soluções aplicĂĄveis e o desenvolvimento de novas tecnologias para essas ĂĄreas estratégicas.

Ensino a distância

O relatório propõe ainda a ampliação e qualificação da oferta de cursos pĂșblicos na modalidade EaD, destinados àqueles que precisam de flexibilidade.

A EaD teve um forte crescimento nos Ășltimos anos. Entre 2011 e 2021, o nĂșmero de estudantes em cursos superiores de graduação, na modalidade de educação a distância (EaD), aumentou 474%. No mesmo perĂ­odo, a quantidade de estudantes que ingressaram em cursos presenciais diminuiu 23,4%. Em 2022, 81% dos alunos ingressantes em cursos de licenciatura em 2022, se matricularam na modalidade de ensino a distância.

Essa expansão, no entanto, acendeu um alerta para a necessidade de se garantir a qualidade na oferta desses cursos. Por isso, o Ministério da Educação (MEC) suspendeu até 2025 a criação de novas vagas em EaD, para que seja feita uma revisão do marco regulatório desses cursos.

Atualmente, as vagas em EaD são majoritariamente mantidas pelo setor privado, 71,7%, contra 12,9% no setor pĂșblico. A proposta é que as instituições federais expandam a oferta dessa modalidade.

"A gente não pode negar que o ensino à distância é uma demanda real, e eu acho que irreversĂ­vel, da sociedade moderna. Óbvio que nem todos os cursos vão ser EaD e não é isso que a gente propõe, mas que a gente possa usar esse instrumento, que é um instrumento poderoso de expansão do ensino, que possibilita, por exemplo, que os alunos em localidade de difĂ­cil acesso sejam atendidos ou alunos um pouco disponibilidade de horĂĄrio que precisam de flexibilizar o seu horĂĄrio", defende, Capaz.

Valorização do ensino superior

Segundo Capaz, o trabalho do grupo pretende também valorizar o ensino superior e ampliar o acesso a ele pela população brasileira. "Existe ainda muito espaço e necessidades para a gente aumentar a fração de brasileiros com ensino superior. E isso é que em Ășltima anĂĄlise vai levar ao desenvolvimento do paĂ­s", diz.

O relatório é apresentado em um contexto de corte de gastos do governo federal. Mesmo assim, para a presidente da Academia Brasileira de CiĂȘncias e também uma das integrantes do GT, Helena Nader, a educação deve ser priorizada.

"Educação, na nossa visão da Academia, deveria ser uma prioridade do Estado brasileiro. Sem educação não vai haver economia estĂĄvel e não vai haver justiça social. Sabemos dos cortes, mas o paĂ­s precisa de mais pessoal qualificado profissionalmente, inclusive frente a essas mudanças que vĂȘm em função da inteligĂȘncia artificial", afirma.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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