BRASĂLIA, 29 de novembro — Assim como fez no caso da desoneração fiscal, emissĂĄrios governistas reconhecem que o governo estĂĄ articulando uma estratégia via Supremo Tribunal Federal para viabilizar a chamada "taxação dos super-ricos" — medida que, segundo o governo, abrange pessoas com renda superior a R$ 50 mil mensais —, buscando superar a resistĂȘncia jĂĄ antecipada no Congresso Nacional.
Anteontem, Haddad fez um polĂȘmico e muito aguardado pronunciamento que gerou uma forte reação do mercado financeiro ao combinar o anĂșncio de um corte de gastos de R$ 70 bilhões em dois anos, sem apresentar detalhes, junto com a proposta de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil, cujo custo anual, com base em cĂĄlculos oficiais, atingiria a cifra de R$ 48,5 bilhões (renĂșncia fiscal).
A forte reação do mercado, que levou o dólar a superar os R$ 6, decorreu do fato de o ministro afirmar, mais uma vez sem apresentar dados, que a isenção do IR seria financiada pela chamada "taxação dos mais ricos" — uma medida que, necessariamente, precisaria passar pelo Congresso, onde, hĂĄ tempos, representantes tĂȘm sinalizado resistĂȘncia à aprovação de novos impostos.
O anĂșncio do governo, que associou um corte de gastos à criação de um imposto, foi considerado "populista" e "eleitoreira" por diversos integrantes do mercado, jĂĄ que tanto a isenção quanto a proposta de contrapartida, mesmo sob uma perspectiva otimista, dificilmente seriam aprovadas antes do meio do próximo ano e, de qualquer forma, não entrariam em vigor antes de 2026 (ano eleitoral).
Em BrasĂlia, jĂĄ é dada como certa a aprovação da isenção do IR, que era uma promessa de campanha das duas principais candidaturas na Ășltima eleição. No entanto, não hĂĄ qualquer sinal de que o novo imposto tenha chance de ser sequer votado (tem resistĂȘncia até da base aliada do governo).
Não é possĂvel prever se a inclusão do Supremo no tema tornarĂĄ ainda mais tensa a relação entre os poderes, que, apesar das aprovações de pautas de interesse do governo, permanece estremecida. É importante destacar que a relação com o Congresso serĂĄ diferente nos próximos dois anos, devido à campanha polĂtica de 2026 que jĂĄ teve inĂcio em BrasĂlia no dia seguinte das eleições municipais.
(Matéria em atualização)
Fonte: O Apolo Brasil