Os resultados foram semelhantes aos demonstrados pelas vacinas de mRNA jĂĄ disponĂveis no mercado, como as da Pfizer e da Moderna, segundo informou a coordenadora de Implantação do Hub Regional de Desenvolvimento e Produção de Produtos RNA, do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos - Bio-Manguinhos, PatrĂcia Neves.
"Instalamos a primeira ĂĄrea de produção de boas p?aticas de fabricação de produtos RNA da América Latina. É um grande avanço para o Brasil e motivo de orgulho pra nós. JĂĄ produzimos trĂȘs lotes de controle e dois lotes de vacina, que estão sendo usados nos Ășltimos estudos toxicológicos. Não tivemos nenhum evento adverso grave, nem mortalidade dos animais", afirmou.
Para testar a segurança da vacina, animais estão sendo avaliados de forma "microscópica" para garantir que as substâncias usadas na produção não causaram nenhuma toxicidade aos tecidos e órgãos. Quando todos os experimentos forem concluĂdos, o instituto vai solicitar à AgĂȘncia Nacional de Vigilância SanitĂĄria (Anvisa) a autorização para inciar os testes em humanos.
A expectativa é que até o final do ano a agĂȘncia conceda a autorização para o inĂcio da fase 1 dos testes em voluntĂĄrios. Outras rodadas de testes em humanos devem ser realizadas até que o instituto possa pedir à Anvisa o registro do produto.
Apesar de não haver previsão para o término do processo, os primeiros resultados são "bastante animadores", de acordo com a coordenadora de Bi0-Manguinhos. Testes indicam que, em poucos anos, o Brasil terĂĄ uma vacina de mRNA contra a covid-19 altamente eficaz, produzida em território nacional por uma instituição pĂșblica. Isso significa que ela poderĂĄ ser adquirida pelo Ministério da SaĂșde a um custo bastante inferior.
O sucesso da vacina também vai comprovar a validade da plataforma de RNA mensageiro desenvolvida por Biomanguinhos, que utiliza uma nanopartĂcula lipĂdica para levar as informações genéticas do coronavĂrus até o interior das células do sistema imunológico. Essa molécula sintética "ensina" o sistema imunológico do organismo humano a produzir anticorpos para combater o vĂrus que causa a covid-19, caso a pessoa seja infectada por ele após a vacinação
Se a plataforma se mostrar efetiva, vai possibilitar que Biomanguinhos adapte a mesma molécula a agentes causadores de outras doenças, acelerando a produção de novas vacinas.
"A natureza do RNA e da nanopartĂcula que recobre esse RNA não muda. O que muda é a sequĂȘncia genética que estĂĄ dentro. VocĂȘ pode trocar pela sequĂȘncia do antĂgeno de outras doenças e o processo de desenvolvimento é muito mais rĂĄpido", explica PatrĂcia
Mais quatro projetos de novos imunizantes jĂĄ estão em andamento, mas ainda em fase inicial, para prevenir a leishmaniose, o vĂrus sincicial respiratório (VSR), a febre amarela e a tuberculose. Contra a leishmaniose ainda não hĂĄ vacina, mas imunizantes de RNA para o VSR, a febre amarela e a tuberculose podem ser mais vantajosos do que as versões atualmente disponĂveis, aumentando a proteção e possibilitando a aplicação em pessoas que hoje tĂȘm contra-indicação.
PatrĂcia Neves destaca também a importância estratégica de um instituto pĂșblico brasileiro dominar essa tecnologia.
"É só a pontinha do iceberg porque o RNA tem emergido como uma molécula muito versĂĄtil e a gente tem vĂĄrios tipos de RNA, que tĂȘm outros papéis no desenvolvimento das doenças, e a gente pode utilizar como alvo e como produto para terapias para tratar tumores e doenças genéticas raras, por exemplo, e outras doenças que hoje são de difĂcil tratamento."
Fonte: AgĂȘncia Brasil