A pesquisa foi feita pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o Instituto Fogo Cruzado (IFC), o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos, da Universidade Federal Fluminense (GENI-UFF), e o Centro para o Estudo da Riqueza e da Estratificação Social (CERES-IESP), utilizando informações de 2022.
O estudo cruza dados sobre o mapa de ĂĄreas dominadas por grupos armados, principalmente facções e milĂcias e a localização das escolas pĂșblicas. A partir dessas informações, a conclusão é de que grande parte dos estudantes estava inserida, em maior ou menor grau, em contextos de violĂȘncia armada – 51% dos estudantes de 19 municĂpios do Grande Rio e 55% dos estudantes da capital são afetados.De acordo com a pesquisa, na capital, mais da metade das escolas estão em ĂĄreas dominadas, sendo 28,4% em regiões de milĂcia e 30% de trĂĄfico. Nas demais cidades da região, a proporção de escolas em ĂĄreas de trĂĄfico é similar (29,2%), mas a influĂȘncia das milĂcias é significativamente menor (9,6%).
O relatório ressalta que a cidade do Rio de Janeiro tem apenas 41,6% de suas escolas localizadas em ĂĄreas não dominadas por grupos armados. HĂĄ diferenças entre as regiões da cidade. Enquanto 29 escolas da zona sul da capital, ou 30% do total, registraram ao menos um episódio de violĂȘncia armada aguda na sua vizinhança, na zona norte esse nĂșmero chega a 510, o equivalente a 65% das escolas.
Em 2022, ano considerado na pesquisa, foram contabilizados mais de 4,4 mil tiroteios em situações ou não de operações/ações policiais nas imediações de escolas. A zona norte do Rio concentra o maior nĂșmero de ocorrĂȘncias entre os locais analisados: em um ano, escolas da região foram afetadas 1.714 vezes por tiroteios.
Na Baixada Fluminense foram contabilizados 1.110. A zona sul do Rio, ĂĄrea nobre da capital, é a região que possui menos escolas em ĂĄreas dominadas por grupos armados e é também a que teve menos escolas afetadas. Foram 29 escolas atingidas por 86 tiroteios.
O estudo cita como preocupante a frequĂȘncia com que algumas escolas estão expostas a episódios de violĂȘncia armada. Em 2022, uma mesma escola de São Gonçalo registrou 18 episódios de violĂȘncia armada aguda, o que significa, na média, um tiroteio a cada duas semanas. A escola lidera o ranking de unidades mais afetadas.
O relatório mostra ainda a alta incidĂȘncia de tiroteios em ĂĄreas com mais operações policiais. O nĂșmero de tiroteios em ações policiais foi trĂȘs vezes maior em ĂĄreas controladas do que em locais não controlados.
Os municĂpios analisados foram: Rio de Janeiro, Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, ItaboraĂ, ItaguaĂ, Japeri, Magé, MaricĂĄ, Mesquita, Nilópolis, Niterói, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, Rio Bonito, Seropédica, São Gonçalo, São João de Meriti e TanguĂĄ.
A publicação traz uma série de recomendações aos atores pĂșblicos para a prevenção da violĂȘncia armada contra crianças e adolescentes, entre elas:
- implementar e ampliar protocolos de resiliĂȘncia em serviços e comunidades;
- desenhar e implementar um modelo de reparação de serviços e da comunidade;
- integrar polĂticas de segurança e educação e erradicar os impactos negativos de operações policiais no entorno de escolas;
- implementar a Lei Ágatha Felix, que estabelece que todos os crimes contra crianças e adolescentes no estado do Rio de Janeiro terão prioridade nas investigações;
- desenhar e implementar um modelo protetivo de segurança pĂșblica para a infância e adolescĂȘncia, e enfrentar com inteligĂȘncia e investigação os grupos armados no Rio de Janeiro;
- fortalecer uma educação que proteja contra a violĂȘncia.
O relatório divulgado é o primeiro de uma série de dois estudos. No segundo, serão avaliados os efeitos da influĂȘncia da violĂȘncia armada sobre aprendizado e taxa de abandono escolar.
Fonte: AgĂȘncia Brasil