O Dia Nacional de Atenção à Dislexia foi celebrado no dia 16 deste mês e com o objetivo de trazer mais visibilidade para esse transtorno. Mas o que é dislexia? A Associação Brasileira de Dislexia a define como um transtorno específico de aprendizagem, caracterizado pela dificuldade no reconhecimento preciso ou fluente da palavra, na habilidade de decodificação e em soletração.
O transtorno tem origem neurobiológica e não deve ser atribuído à deficiência intelectual, aspectos motivacionais, escolarização inadequada e a comprometimentos sensoriais, de acordo com critérios da American Psychiatric Association (APA, 2002) e da Organização Mundial de Saúde (2008).
A bióloga e presidente de honra da Associação Mato-grossense de Dislexia, Gabrielle Coury, esclarece que os sintomas ficam mais visíveis durante a alfabetização, por volta dos 8 a 9 anos, mas a condição permanece a vida inteira.
"Afeta a leitura, a escrita e a soletração de crianças. Como é neurobiológico, vai por toda a vida. Então, vai ser um jovem disléxico, um adulto disléxico, por isso que traz grande impacto na vida da pessoa. Porque a gente vive num mundo de leitura e escrita. A comunicação com o mundo é através da leitura. Então, afeta profundamente essa relação da pessoa com o mundo", explica a ativista.
A Associação Internacional de Dislexia (IDA) calcula que 10% da população mundial, cerca de 700 milhões de pessoas, são disléxicas. No Brasil, a estimativa é que 8 milhões de pessoas tenham o transtorno. O dado é do Instituto ABCD, uma organização sem fins lucrativos referência nacionalmente desde 2009.
Coury também é mãe de uma jovem disléxica. Ela se recorda que a filha não conseguia ler e escrever mesmo estando em uma escola com boa educação. Não conseguiam entender o que estava acontecendo, mesmo buscando auxílio de profissionais. Então, uma amiga sugeriu que ela procurasse ajuda em um congresso da Associação Brasileira de Dislexia, e, em seguida, recebeu o diagnóstico em São Paulo.
Em 2015, a bióloga reuniu-se com outras famílias e disléxicos que estavam na mesma situação. Juntos, formaram a Associação Mato-Grossense de Dislexia para divulgar sobre o transtorno. "Compreendo que a dislexia é uma condição humana e não uma limitação da vida", pontua a profissional.
"Levei o diagnóstico na escola e pensei, bom, agora a escola vai saber o que fazer e, na verdade, não soube. Ninguém sabia o que fazer. A escola não sabia, o professor não sabia, ninguém sabia", recorda. "Foi aí que entendi que eu precisava fazer alguma coisa. Que eu precisava ajudar a escola. Aí eu comecei a estudar a dislexia e, com outras mães, a gente fundou a associação, exatamente com esse objetivo de trazer a informação para a escola, para os professores, para as famílias e para os profissionais também da área", explica.
Atualmente, a filha da ativista faz faculdade de educação física. Coury aponta que ela ter crescido nesse ambiente coletivo de pessoas que entendiam o transtorno ajudou também em seu percurso.
"Sei que ela enfrenta desafios ainda, que a dislexia traz desafios ainda mesmo na faculdade, mas eu vejo que ela tem um empoderamento forte também por conviver com as ações da associação, conviver com outras pessoas que têm dislexia, conviver com outros adultos que têm, que são formados, que trabalham, que têm famílias. Então, ela cresceu vendo isso. Eu fico muito feliz de ver onde ela está hoje", relata a mãe.
O tratamento e o diagnóstico da disfunção são feitos com o auxílio de uma equipe multidisciplinar, com médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, pedagogos e professores. Orientações mais detalhadas podem ser acessadas no site da associação e em redes sociais.
"Eu penso que as famílias precisam ser mais engajadas para que a gente mostre. Para que quanto mais pessoas saibam que existe dislexia e tenham o conhecimento dos sintomas", frisa. "Eu acho que precisamos realmente de mais divulgação, mais conhecimento das pessoas, e um olhar mesmo inclusivo das diferenças", finaliza.
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