Nossa Senhora do Livramento (37 km de Cuiabá) respira agricultura familiar. Com forte vocação para a fruticultura, a cidade da Baixada Cuiabana com pouco mais de 13 mil habitantes é conhecida como a Terra da Banana. No entanto, nas últimas décadas, as frutas passaram a dividir as atenções com a rapadura e outros doces, além de queijos e derivados, revelando uma economia pujante.
A reportagem do jornal A Gazeta foi à fábrica da empresa Doces Campo Alegre para conhecer o sistema de trabalho da companhia, que produz uma diversificada gama de guloseimas - o cardápio da marca conta com, aproximadamente, 40 itens.
Todos os meses, são produzidas cerca de 10 mil peças de rapadura divididas em embalagens de 400g, 500g e 900g. Segundo o proprietário da empresa, Ciro Ernesto de Moraes, as equipes de trabalho se revezam em diversas etapas da fabricação do doce a partir da cana-de-açúcar e do leite. Antes de colocar as mãos na massa, os funcionários realizam a esterilização de máquinas e equipamentos para evitar qualquer tipo de contaminação.
Após a moagem da cana no engenho, a garapa é peneirada para que as impurezas sejam eliminadas e levada ao tacho para ser aquecida. Com o leite, o processo é similar. Após a fermentação, o caldo passa pelo por fervura para a retirada da água e mexido para que fique mais concentrado. Somente depois que chegam ao ponto certo, tanto o leite como a rapadura descansam e então são levados para serem concluídos e embalados para a comercialização, detalha o empresário.
Na estação em que são finalizadas, as rapaduras ganham a companhia e o sabor de novos ingredientes como amendoim, mamão, mandioca, banana, abóbora, babaçu, coco, maracujá, entre outros.
As combinações de receitas envolvendo o carro-chefe em vendas também abrem espaço para a produção de outros derivados. Isso porque a Doces Campo Alegre também é especializada na fabricação de furrundu, melados, manteigas, doce de leite e cachorrada. Os dois últimos, inclusive, foram premiados no Concurso do Queijo e Produtos Lácteos de Mato Grosso, evento promovido pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado (Sebrae-MT).
Mão de obra e economia local
O sucesso consolidado da marca que distribui doces para todo o estado ainda não contém o apetite de Ciro Ernesto. A meta para os próximos anos é aumentar a produtividade de forma expressiva e, assim, apresentar novas mercadorias como inédita rapadura de bocaiuva. Porém, a dificuldade na contratação de mão de obra é o principal desafio para o empresário no cenário de momento. A Doces Campo Alegre tem 10 colaboradores em seu quadro funcional.
Estamos operando com 2,3 mil litros de leite e 100 feixes de cana-de-açúcar por semana, mas o objetivo é trabalhar com 3 mil litros (leite) e dobrar o volume em relação à cana. O problema é encontrar pessoas interessadas para desempenhar as funções. Temos uma rotina definida de produção que é muito comprometida sempre que um profissional deixa de comparecer ao trabalho, já que temos várias entregas acordadas com clientes. É preciso ter responsabilidade.
Além do impacto na geração de empregos, o modelo de negócios permite que diversas cadeias econômicas sejam beneficiadas. Conforme o produtor, a fábrica compra insumos - como frutas, cana e lenha - dentro da própria comunidade.
Museu
A pouco mais de 30 metros da unidade fabril da Doces Campo Alegre está situado o Centro de Memória da Rapadura. Inaugurado em 2021, o espaço construído na forma de casa de pau a pique conta com um vasto acervo de imagens de produtores de gerações antigas e ilustrações que mostram todas as etapas de produção do doce.
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