BRASĂLIA, 21 de novembro — A PolĂcia Federal (PF) indiciou nesta quinta-feira (21) o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro e outras 36 pessoas, incluindo 25 militares, por uma suposta "tentativa de golpe de Estado" em 2022, cabendo agora à Procuradoria-Geral da RepĂșblica (PGR) decidir se apresentarĂĄ uma denĂșncia formal ao Supremo Tribunal Federal (STF), que, se aceita, poderĂĄ imputar ao ex-mandatĂĄrio os crimes de golpe de Estado (pena de 4 a 12 anos de prisão), abolição violenta do Estado DemocrĂĄtico de Direito (pena de 4 a 8 anos) e formação de organização criminosa (pena de 3 a 8 anos).
Em resposta, o ex-presidente negou as acusações e declarou que aguardarĂĄ acesso integral ao inquérito, cujo relatório da PolĂcia Federal, com mais de 800 pĂĄginas (todo o material), estĂĄ SOB SIGILO. Bolsonaro também criticou o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, acusando-o de "conduzir todo o inquérito, ajustar depoimentos, prender sem denĂșncia, realizar pesca probatória e contar com uma assessoria bastante criativa".
A palavra "criativa" remete a uma conversa de WhatsApp obtida pela Folha de S. Paulo, na qual dois assessores de Alexandre de Moraes, Eduardo Tagliaferro — então perito criminal e ex-chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) — e o juiz auxiliar Airton Vieira, principal assessor de Moraes no Supremo Tribunal Federal (STF), discutiram a formalização de uma denĂșncia contra a Revista Oeste. Na troca de mensagens, eles mencionaram: "Usa a sua criatividade rsrsrs".
Lista dos 37 indiciados (ordem alfabética): Alexandre Castilho Bitencourt Da Silva, Alexandre Rodrigues Ramagem, Almir Garnier Santos, Amauri Feres Saad, Anderson Gustavo Torres, Anderson Lima De Moura, Angelo Martins Denicoli, Augusto Heleno Ribeiro Pereira, Bernardo Romao Correa Netto, Carlos Cesar Moretzsohn Rocha, Carlos Giovani Delevati Pasini, Cleverson Ney Magalhães, Estevam Cals Theophilo Gaspar De Oliveira, FabrĂcio Moreira De Bastos, Fernando Cerimedo, Filipe Garcia Martins, Giancarlo Gomes Rodrigues, Guilherme Marques De Almeida, Hélio Ferreira Lima, Jair Messias Bolsonaro, José Eduardo De Oliveira E Silva, Laércio Vergilio, Marcelo Bormevet, Marcelo Costa Câmara, Mario Fernandes, Mauro Cesar Barbosa Cid, Nilton Diniz Rodrigues, Paulo Renato De Oliveira Figueiredo Filho, Paulo Sérgio Nogueira De Oliveira, Rafael Martins De Oliveira, Ronald Ferreira De Araujo Junior, Sergio Ricardo Cavalieri De Medeiros, Tércio Arnaud Tomaz, Valdemar Costa Neto, Walter Souza Braga Netto e Wladimir Matos Soares.
Seguindo o protocolo, o relatório de indiciamento da PolĂcia Federal foi entregue ao ministro Alexandre de Moraes, que deverĂĄ encaminhĂĄ-lo à PGR na próxima semana, cabendo a esta solicitar novas diligĂȘncias investigativas, requerer o arquivamento do caso ou apresentar denĂșncia ao Supremo Tribunal Federal.
Caso a PGR decida apresentar a denĂșncia, o caso serĂĄ julgado pelo Supremo, que poderĂĄ arquivĂĄ-lo, enviar o caso para a primeira instância (provĂĄvel estratégia de defesa a ser utilizada pelo ex-presidente) ou tornar Jair Bolsonaro e os demais investigados réus.
Como réus em uma ação penal, os investigados passam a ser tratados como "acusados" e são submetidos a interrogatórios e eventuais novas diligĂȘncias até a decisão final da Corte.
Esta é a terceira vez que Bolsonaro é indiciado neste ano de 2024. Em março, a PF acusou o ex-presidente de "fraude no cartão de vacinação e associação criminosa". JĂĄ em julho, ele foi indiciado por "associação criminosa, lavagem de dinheiro e peculato" no caso das joias.
Notas divulgadas pelas defesas dos outros indiciados:
- Filipe Martins: "Vemos a notĂcia do indiciamento de Filipe Martins com naturalidade. A PF precisava justificar o que fez; levando um inocente à prisão. Não conseguirĂĄ! Temos as provas!"
- Walter Braga Netto: "A Defesa técnica do General Walter Souza Braga Netto destaca e repudia veementemente, e desde logo, a indevida difusão de informações relativas a inquéritos, concedidas 'em primeira mão' a determinados veĂculos de imprensa em detrimento do devido acesso às partes diretamente envolvidas e interessadas. Assim, a Defesa aguardarĂĄ o recebimento oficial dos elementos informativos para adotar um posicionamento formal e fundamentado."
- José Eduardo de Oliveira e Silva: "Menos de 7 dias depois de dar depoimento à PolĂcia Federal o meu cliente vĂȘ seu nome estampado pela PolĂcia Federal como um dos indiciados pelos investigadores. Os mesmos investigadores que não se furtaram em romper a lei e tratado internacional ao vasculhar conversas e direções espirituais realizadas pelo padre os possuem garantia de sigilo.
Quem deu autorização à PolĂcia Federal de romper o sigilo das investigações? Até onde eu sei o Ministro Alexandre de Moraes decretou sigilo absoluto. Não hĂĄ qualquer decisão do magistrado até o momento rompendo tal determinação. A nota da PolĂcia Federal com a lista de indiciados é mais um abuso realizado pelos responsĂĄveis da investigação e, tendo publicado no site oficial do órgão policial, contamina toda instituição e a torna responsĂĄvel pela quebra da determinação do Ministro de sigilo absoluto." - Marcelo Costa Câmara e Tércio Arnaud Tomaz (mesmo advogado): "Embora tal medida fosse esperada no atual estĂĄgio das apurações, a defesa discorda veementemente do indiciamento, pois entende que ele não se sustenta diante da ausĂȘncia de qualquer elemento concreto que vincule o Sr. Tércio Arnaud Tomaz às condutas investigadas. Reafirmamos nosso compromisso com a verdade e com o pleno respeito ao devido processo legal, certos de que a inocĂȘncia do Cel. Marcelo Costa Câmara serĂĄ devidamente reconhecida no curso das apurações.
Confiamos que o representante do Ministério PĂșblico, em sua atuação isenta, técnica e guiada pela busca da verdade, reconhecerĂĄ a necessidade de diligĂȘncias complementares para esclarecer integralmente os fatos, o que evitarĂĄ a propositura de denĂșncia baseada em elementos insuficientes ou especulativos. Reafirmamos nosso compromisso com a verdade e com o pleno respeito ao devido processo legal." - Paulo Sérgio Nogueira: "A defesa apenas se manifestarĂĄ nos autos." (Declaração enviada à CNN Brasil)
- Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho: "Devo dizer que estou honrado. Entendo esta acusação como parte de uma campanha de intimidação da GESTAPO de Moraes para silenciar a mim e meus esforços para conscientizar o pĂșblico e o governo americanos sobre a contĂnua descida do Brasil à ditadura, que estĂĄ cada vez mais se alinhando com a China. Que fique claro: não respondo à intimidação, nem recuarei em exercer minhas liberdades dadas por Deus. Estou confiante de que, sob uma nova administração que valoriza a liberdade, os Estados Unidos verão esses acontecimentos com a seriedade que merecem."
- Ronald Ferreira de Araujo Junior: "Embora o relatório final da investigação, ao que se sabe, ainda não tenha sido enviado ao Supremo Tribunal Federal, e tampouco tenha sido oferecida denĂșncia pela Procuradoria-Geral da RepĂșblica, o indiciamento de Ronald Ferreira de AraĂșjo JĂșnior não condiz, a toda evidĂȘncia, com a realidade dos fatos. Militar por vocação, Ronald não participou, a qualquer tĂtulo, dos supostos crimes investigados, tampouco concorreu, intelectual ou materialmente, para a prĂĄtica de qualquer conduta voltada à subversão da ordem jurĂdica do paĂs que sempre procurou dignificar por meio da farda. A defesa afirma ainda confiar na "anĂĄlise que serĂĄ realizada pelo Ministério PĂșblico Federal e aguarda o acesso ao relatório da PF para maiores esclarecimentos."
- Almir Garnier Santos: "Em relação ao indiciamento do Almirante Almir Garnier, a defesa reitera a inocĂȘncia do investigado, esclarecendo que ainda não teve acesso integral aos autos".
- Anderson Gustavo Torres: "A defesa do ex-ministro Anderson Torres somente irĂĄ se posicionar após ter acesso ao relatório de indiciamento".
- – Em atualização
(Matéria em atualização)
O Apolo Brasil