O veto do Carrefour à comercialização de carnes de países do Mercosul na França gerou indignação entre políticos e entidades do agronegócio mato-grossense nessa semana. A decisão atendeu a pressão de produtores franceses que são contra a proposta de acordo de livre comércio entre a União Europeia (UE) e o bloco da América do Sul.
A polêmica iniciou na quarta-feira (20), quando o CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, declarou que a rede de varejo francesa não iria comercializar mais carne proveniente do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
A declaração de Bompard ocorreu em meio a uma crescente pressão na França sobre o acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul, com protestos de agricultores franceses. Eles alegam que a carne do Mercosul não atende aos padrões exigidos pelo mercado francês.
Durante entrevista, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), classificou a medida como uma "ação orquestrada". Isso porque em outubro a francesa Danone também decidiu suspender a importação da soja brasileira em meio às exigências da nova lei anti desmatamento da União Europeia.
"Me parece uma ação orquestrada de companhias francesas. Não pode achar que é coincidência. Há 15 dias, foi a Danone que fez. E agora o Carrefour. Apontando de forma inverídica as condições de produção brasileiras, para ferir a soberania brasileira e afetando nossa produção, que é sustentável", disse Fávaro.
Não demorou muito e o governador Mauro Mendes (União) também se manifestou sobre o assunto por um vídeo publicado no Instagram. O gestor criticou a decisão e ainda sugeriu um boicote à empresa, que também agrega a rede Atacadão no Brasil.
"Não é justo alguém nos tratar dessa forma e a gente não dar a eles aquilo que é muito conhecido, inclusive internacionalmente, que é a chamada lei da reciprocidade, do jeito que você me trata eu posso também te tratar. Então se o Brasil não serve para vender carne pra eles, então eles não servem pra vender produtos franceses e, até porque não dizer, essa empresa não deveria ser bem vista aqui no nosso país", disse.
Essa não foi a única reação do Palácio Paiaguás. O chefe da Casa Civil, Fábio Garcia, classificou a medida como "uma imposição de países que não conseguem atingir a mesma eficiência produtiva". "Essa é mais uma tentativa de enfraquecer a competitividade do Brasil e deixar nossos produtores reféns de mercados que não possuem capacidade de produzir alimentos suficientes para atender às suas populações", declarou.
Já a deputada estadual Janaina Riva (MDB) disse que a medida é "insignificante para a economia local". "CEO do Carrefour anunciou que não irá mais comprar carne do Mercosul, mas, de fato, o que isso vai impactar na vida dos nossos produtores aqui em Mato Grosso?", escreveu na legenda da publicação do Instagram.
Reação institucional
Também houve reações institucionais do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e do Sindicato Rural de Sinop, município localizado a 500 km de Cuiabá e que abarca grande fatia da produção agrícola estadual.
O Mapa destacou que o Brasil possui uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo e atua com transparência no setor. "O Mapa não aceitará tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros. Mais uma vez, o Mapa reitera o compromisso da agropecuária brasileira com a qualidade, sanidade e sustentabilidade dos alimentos produzidos no Brasil para contribuir com a segurança alimentar e nutricional de todo o mundo", defendeu o ministério.
Já o Sindicato Rural destacou que a medida é um ato "discriminatório contra a produção sustentável". "Tal atitude não só desrespeita a produção nacional, mas também é uma afronta à sustentabilidade e aos altos padrões de qualidade que os produtores brasileiros têm alcançado, reconhecidos tanto no mercado interno quanto internacional", apontou.
A Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) alegou que a decisão desrespeita o compromisso da pecuária brasileira com a sustentabilidade e a excelência produtiva.
"A decisão, justificada por uma suposta preocupação com padrões de qualidade e sustentabilidade, desvirtua a realidade do setor agropecuário nacional, reconhecido mundialmente por sua eficiência, capacidade de atender exigências ambientais rigorosas e por ser referência no uso de tecnologias de baixo impacto ambiental", disse.
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